quarta-feira, 14 de maio de 2014

Moçambique 2011 - Um pouco sobre minha experiência

Olá!
As coisas por aqui não andam muito movimentadas - mesmas coisas. Ainda quero escrever sobre muitas coisas daqui, mas hoje estava olhando blogs antigos e achei o texto abaixo. Eu escrevi ele pra News do meu trabalho no Brasil, então não poderia ser tão comprido... Tenho muito o que escrever sobre a experiência que eu tive lá, tenho muito a compartilhar. Hoje apenas a breve reflexão, o mesmo texto que escrevi há quase 2 anos atrás...

Como muitos de vocês sabem, morei na África por 6 meses. Meu objetivo era muito belo e nobre: ajudar os outros, realizar trabalho voluntário de desenvolvimento. No final do período não sei se consegui alcançar
meu objetivo – aliás, nunca sabemos com certeza o impacto que nossas ações têm na vida dos outros. O que eu sei, com toda certeza, que eu mudei e aprendi muito. Aprendi na marra que antes de querer mudar o
mundo, temos que mudar as nossas ações, a nós mesmos.
Vivi 6 meses em uma vila no norte de Moçambique, Bilibiza, com 4 mil habitantes, a maioria crianças e adolescentes e 5 brancos. Todos nós morávamos juntos e éramos voluntários - Instrutores de Desenvolvimento.
Eu não tinha água corrente na casa – ela vinha do poço ou do rio (cerca de 1km da casa – tínhamos sorte!). Eletricidade só 3h por dia, das 18h às 21h. Isso quando o gerador não estava quebrava ou não acabava o diesel. Telefone só debaixo da árvore e no viva-voz. Banho de caneca. Quando o gás acabava, ficávamos às vezes um mês cozinhando com lenha e/ou carvão. E as minhas condições eram ótimas se comparadas
à das pessoas da vila.
Cenas comuns eram ver mulheres caminhando por quilômetros no sol, todos os dias, carregando crianças nas costas, bacias/galões de água na cabeça e algo na mão. De pés descalços e muitas vezes sorrindo. Esse sorriso, a facilidade de rir – e uma risada sincera e gostosa, era surpreendente. E as crianças! Crianças carregando crianças, crianças sem roupa na rua, crianças brincando com lixo na rua, e fazendo dele os mais divertidos brinquedos, crianças carregando baldes de água na cabeça, crianças trabalhando, crianças grávidas, crianças rindo, olhando e sorrindo.
Tudo isso nos faz rever nossos valores. Questionei-me muitas vezes o que fui fazer lá se, mesmo com todos os problemas, eles eram mais felizes do que nós somos. A verdade é que, muitas vezes, não se via o sofrimento por trás daqueles olhos. Essas são pessoas que vivem intensamente o tempo AGORA. Sentem-se felizes pelo momento, e são espontâneos. Alguns momentos, estão tristes. E, por mais que se preocupem que a chuva demora a vir, não se preocupam muito no geral. Acreditam cegamente em destino. Creio que essa seja uma das principais diferenças das nossas culturas.
Acredito que tanto eles devem aprender conosco, e nós com eles.
Viver o agora, mas com planos, projetos, ambições e sonhos para o futuro. Porque é esse o combustível que nos move para frente e nos faz crescer. Não se preocupar (porque não adianta, e isso apenas atrapalha), mas trabalhar para evitar as preocupações. Manter a calma, mas não viver na inércia. Colocar o coração em todas as suas ações, mas também usar a cabeça. Sonhar, idealizar, planejar e ir atrás e realizar. Ver a felicidade nas coisas simples, aproveitar cada momento, e estar presente, de corpo e pensamento, em todos os momentos da vida.

Menina de Bilibiza com a camisa do Grêmio!

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